segunda-feira, 20 de julho de 2009

EXISTENCIALISMO LUDICO

Por Dr. Cannetta!

Nunca fui pessimista.
Mas sempre gostei do Esperando Godot, do Beckett.
Sempre achei estranho, sempre me falavam do existencialismo, da transitoriedade, do absurdo da vida e tal... Sempre que ouço esse papo me dá um pouco de sono. Me lembra papinho-cabeça de intelectualzinho brasileiro que ainda está preso na colonização da cultura francesa. Soninho. Mas eu semprei gostei do Godot.
Relendo hoje eu entendi porque: eu gosto, pois os personagens são palhaços.
Todo o diálogo lembra o burlesco e há cenas inteiras de humor físico na tradição pastelão.
Resumindo: existencialismo é ótimo!
Desde que se entenda que a vida é uma comédia e que nós somos os palhaços!
Se misturar existencialismo com melodrama aí a vida vira aquela chatice de depressão francesa.
Se misturar com tragédia vira os livros do Camus, que foram legais na adolescência, mas não se aplicam a vida adulta.
Lendo o Godot me lembrei do fantástico prefácio do livro Pastelão, ou Solitário Nunca mais. Nesse prefácio, Kurt Vonegut (o maior existencialista palhaço de todos os tempos) analisa como O Gordo e o Magro são a melhor lição que um ser humano pode ter para a vida.
Pois o existencialismo tem que ser cômico.
Resumindo:
Não é que a vida não tem SENTIDO.
É a gente que só sabe o sentido dela depois de viver!
Na vida a gente não é autor, nem roteirista, nem diretor.
É só personagem. Todos os personagens nossos são – do ponto de vista do narrador - grandes palhaços. Nada mais engraçado do que um personagem melodramático reclamando da vida. Ou do que um personagem dominado pelo cérebro.
Há momentos de dramas reais, como todo bom filme do Chaplin.
Mas a essência é de palhaço!
Quem sabe disso pode, quando muito, se tornar um escada de palhaços. Quando muito. E recomendo que deixe vir seus momentos de palhaçada completa.
Pois precisa.
Quando aceitamos que somos apenas palhaços acalmamos e podemos curtir
Tudo que nos resta é fazer direitinho nosso papel
Como diria Vonegut, num trecho do citado prefácio:
“A base do humor do Gordo e o Magro, creio eu, era que eles se esforçavam ao máximo em cada prova que tinham pela frente.
Nunca deixavam de enfrentar de boa fé o seu destino, e eram fantasticamente adoráveis e engraçados na tentativa”.
Gordo e Magro são o existencialismo popular. O existencialismo sem firula francesa, o existencialimo poético da vida real.
O existencialismo foi importante para trazer aos orgulhosos intelectuais de um país colonizador falido a consciência de que sua vida é transitória. Que mesmo com toda sua produção artística, toda sua cultura, eles são apenas mais uma peça no tabuleiro do grande espetáculo da vida.
Sarte e os existencialistas foram fundamentais para despertar essa consciência entre intelectuais e o fez no tom serio-dramático da filosofia tradicional. Mas basicamente, o que o existencialismo fez foi traduzir o Gordo e Magro para a grande filosofia.
Essa humildade que vem da consciência da transitoriedade as classes populares sempre tiveram. E se o tom sério dramático do existencialismo acabava levando ao suicídio, o tom leve da comédia acaba levando a uma vida ainda mais plena.
A comédia popular sempre mostrou que o que importa é participar da vida com presença, contribuir para essa improvisação aparentemente amalucada com a confiança de que a equipe é boa e o roteirista talentoso. Que no final, vai ficar tudo claro e tudo vai fazer sentido.
E ter como principio básico: contracenar com nossos colegas de palco!
Tal como um bom palhaço!
Pois o que importa é que a peça fique boa!
Por tudo isso chegou a hora de superarmos o existencialismo serio dramático e alcançarmos o existencialismo lúdico.
Um existencialismo baseado em presença, participação, confiança em deus (o autor) e alegria!
Um existencialismo palhaço.
Por isso, meu blog é, antes de tudo, um blog de palhaço!

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